Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

2021

 Acho que nunca escrevi um texto de final de ano, mas já escrevi muito nos últimos dois anos. Mais do que o trabalho me permitiria. Mais do que eu gostaria. Talvez porque os motivos da escrita não sejam lá animadores. Engraçado como essa força na escrita vem dos nossos maiores terrores. Talvez seja uma forma de combater. Nesses últimos anos nós perdemos milhões de pessoas para um inimigo invisível. Talvez no plural. Afinal, o vírus fez emergir velhos fantasmas da nossa sociedade. Quem imaginaria que além de lutar contra um vírus tão mortal teríamos que lutar contra essa força obscura da sociedade? Desinformação? Maldade? Covardia? Alienação? Há, talvez, uma mistura de todas essas faces e em todas essas cenas eu me perco pensando. Parece inocência minha falar disso assim. Parece que passo a imagem de que acho que isso nunca existiu. Mas tenho consciência da podridão que há na sociedade. Há um pouco de trevas em cada um de nós. Deve ser tentador se entregar a maldade. Algumas pessoas não resistem. São genuinamente más e deleitam-se com o mal. Só é interessante notar como o esgoto está agora a céu aberto e a gente pode sentir o fedor da maldade alheia. Há, no entanto, pessoas que se banharam nesse esgoto sem saber. É Triste, mas eu tenho a esperança da transformação.  Mas eu não comecei esse texto para falar sobre coisas ruins. Por isso começo esse plot twist. Por que o ano foi de desafios. Foi um ano péssimo e nós chegamos aqui. E eu me lembro quando lá no início a vacina dessa loucura era só um sonho e como agora é uma realidade nua em nossas vidas. Incrível como é possível andar na rua e sentir um ínfimo gostinho de normalidade em nossas vidas. Outro dia estava em uma visita ao trabalho. Ossos do ofício. E encontrei um amiga de muito tempo. Nós nos abraçamos sem perceber. Ficamos abraçados um tempo e pensamos "Olha só! Estamos abraçados". Não lindo o que a ciência pode nos proporcionar? A mesma coisa aconteceu há poucos dias na minha sala na universidade. Recebi alguns alunos, encontrei e abracei velhos amigos. E a saudade era grande e a gente não tinha limite para o que queríamos conversar. Por que entendíamos que o tempo do encontro seria curto e estava acabando e que aquele encontro era bom e não podia acabar. E nós tomamos aquele delicioso café. Que maravilhoso abraçar um amigo e esquecer do mundo. Flutuar no silêncio da completude e do entendimento. Sintam-se abraçados meus amigos. Todos vocês que estão ai me lendo. Aquele meu abraço mais forte. Aquele meu abraço mais lento. E vai chegar o dia em que os abraços não serão subversão. E seremos livres mais uma vez para nos entregar as nossas alegrias. Sem esquecer das mazelas do mundo que temos que mudar. Esse ano, apesar de tudo, eu ainda consegui me reerguer. Por um momento eu estava perdido. Cansado. Consumido. Sem esperança. As telas de computador nunca foram tão  assustadoras nesses tempos. Conversas com Dígitos. Mas em algum momento eu me dei conta que a vida iria mudar. Ela sempre é assim. Ás vezes furacão, as vezes calmaria. E eu apertei o slow motion da minha vida e reiniciei o meu sistema. Ainda estou no processo. Em um ano eu consegui manter uma atividade física constante. Eu aprendi a amar a corrida. E estou viciado. Esse ano eu corri 1098km e quando eu comecei eu mal conseguia andar. Tinha que parar para descansar os pés pois estavam dormentes. Eu estava no ápice da minha decadência alimentar. Dessa pandemia, uma coisa é certa. Todo mundo saiu ou sairá um pouco desconsertado. Eu não fui diferente. Mas tentei mudar. Comecei com exercícios constantes. Todo dia. Corrida, musculação, concentração. Mas não controlava a boca. Comida é me ponto fraco.  Ou era. Há uma relação direta entre o que a gente come e nossa saúde. Óbvio. Apesar dos exercícios eu estava muito mal na alimentação. Por conta disso não evoluía. Então, decidi procurar um médico. E descobri que sempre tive uma certa compulsão por comida. Depois que me conscientizei que isso era um problema as coisas começaram a evoluir bem. Não foi dieta. Eu fiz milhares de dietas. Fui em vários nutricionistas. Pra gente evoluir é preciso uma mudança em nossas mentes. Na nossa forma de pensar. É preciso querer. E muitas vezes é preciso ter a ajuda certa pra isso. É preciso detectar se há algo errado com seu corpo e sua mente. Ás vezes é isso que não está funcionando e atrapalhando sua vida. Finalmente eu consegui perder peso. Já foram 12kg nos últimos 3 meses. Estou correndo 20-25km por semana, faço musculação quase todo dia, e tudo isso me da uma energia extra pra sobreviver ao que resta dos desafios que a vida nos trás. Os últimos 2 anos foram difíceis. Nós todos passamos por dificuldades. Vidas foram embora. Mas há uma semente de esperança para os dias pela frente. Há sempre uma estrela que brilha e que ilumina o céu das nossas noites escuras. 2022, 2023, 2024...  serão melhores. O nosso futuro será melhor.  Vamos à luta. 

Matheus Matos

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

o poema é vivo

Escrevo poemas 
sem me preocupar com quem vai ler.
Escrevo-os para exorcizar os sentimentos.
Quando livre, o poema é vivo.
E como alguém que escreve sem saber-se lido,
Posso ser, sem saber, presente.
O poema é de quem lê, não de quem escreve.  
É de quem sente. 
O poema é vivo, o autor pode ser ausente.
O poema muda a forma 
a rima 
a cor 
a língua 
ele muda o tom
a vírgula
O poema muda com quem lê
O poema é transformação 
entonação
Muda seu sentimento 
acelera seu coração 
O poema é vivo
é vida
é droga
é vício 
é cheiro de livro novo 
Canto de sereia pro mar 
O poema pode te fisgar
Um poema vai te alcançar
Escrevo poemas como quem dá presente sem saber.  
Escrevo como quem já sabe amar
mas ainda tem muito a aprender.

Matheus Matos 

sábado, 13 de novembro de 2021

teu tom

viver é só um pulo
não dá pra contar no tempo que a lágrima cai
nem dá pra escutar em notas musicais  
viver é um susto
vi a vida ali
vi em um colibri
violino em ti
e com uma mão invisível
com um arco impossível
alguém tocou teu som
alguém te ouviu 
que tom
e te levou pra orquestrar.  

Matheus Matos


poema inpirado na história de Diego Frazão 

terça-feira, 9 de novembro de 2021

conversa boba

conversa boba
jogada ao vento
ouvindo ao fundo 
o teu lamento

e quando eu estiver em 
sonhos voadores
mergulhando em teus beijos de amores
a vida não avisa
um medo bobo
um canto torto
em um instante 
te vejo de longe
e já és partida
e nessa passagem 
o que não é aprendizado
é mensagem

seriam bons aqueles abraços  
demorados  
abraços de
- não sei mais 
se vou te encontrar
abraços de 
- não sei mais
amar outro alguém.
Há laços nessa vida
que vão muito mais além. 

Matheus Matos 

sábado, 30 de outubro de 2021

Talvez mais tarde

Talvez mais tarde 
Eu possa sobreviver a ideia
De que a vida passa 
Como o rio passa
Como a água passa
Como a pandemia passa
Como passa também a ideia essa cacofonia 
No interstício entre as nossas crises
No intervalo das agonias
Nas pausas dos momentos tristes
Tem esse pouco de vazio
Com um pouco de alegria
Um vento passando frio
A chuva que não sentia
Eu vejo as quatro estações
Nos intervalos do que sobra da vida
As vezes também escrevo poesia
Talvez mais tarde, quando pouca vida restar,  mas ainda restar vida
A vida possa ser vivida nos intervalos apenas.
Sem se notar as agonias.

Matheus Matos 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

nem mortos, nem vivos




Vocês que estão ai
sentados em frente a tela de vidro,
nem mortos,
nem vivos,
basta.
levanta,
anda,
afasta 
dessa coisa 
nefasta.
Há uma brisa que entra pela tua janela
e te chama.
Invoca tua chama,
acende teu fogo,
traz chuva,
lama,
te ensina de novo
a ver o amor
dos olhos dela. 
te chama de novo
a ser a luz do mundo
na nova era. 
Vai, acorda. 
Uma revolução te espera. 

Matheus Matos

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

um beija-flor na minha porta.



Nada mais importa
se um beija-flor vem a minha porta.
o medo, a ansiedade, aquela vontade de explodir
se transforma em uma terna vontade de existir.
fico paralisado. 
apenas observo aquele voo pausado.
asas mais rápidas que eu possa ver
cores cintilantes
azuis, verdes, vermelhos 
pulsantes
me enganam ao entardecer.
Vejo seu canto avisando chegada,
seu bico semeando morada.
Ele tem coração gigante
pode nem parecer, 
mas é pequenininho
Pode voar milhares de quilômetros 
pra aparecer pra você.
Fico muito feliz quando vejo um beija-flor
nunca conseguirei domar
mas sempre terei amor.

Matheus Matos

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Aline Maria

Eu te escreveria mil poemas de despedida. 
Talvez seja essa a minha sina. 
Ladrilhar idas com minhas rimas. 
Minhas fracas rimas de despedida. 

E valerá algum dia
o ar que respiramos
na vida que vivemos
um trocado de alegria?

 Sim. Te conhecer foi sinfonia
Dedilhados delicados de acordes de violão
baterias em harmonia
poesia foi tua voz
em qualquer canção

Eu carrego um peito pesado agora
de todas as imagens de outrora
de todos os encontros e desencontros
dessa triste hora que fostes embora

Demora. Essa dor no peito fica.
A minha sina é ver partidas.
enquanto não parto
lágrimas me partem
fica o que é vida.

 Matheus Matos

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Alinão

Foi hoje que uma amiga de longa data foi embora. E eu não consigo entender. Eu não consigo acreditar. É estranho demais como a vida pode ser simplesmente ceifada injustamente. Não há nada que explique essa aleatoriedade de despedidas abruptas. A vida é injusta. Viver é injusto. Eu te conheci há tanto tempo que não me lembro mais. E sempre tive esse carinho desprendido por ti. Mil poemas não traduziriam. Então, escrevo esse texto pra mim. Recorte de um tempo louco que levou nossas vidas, nossos amigos, nosso tempo e nossa alegria. Teve um tempo que achei que estavas perdida, mas a vida te armou uma surpresa boa, encontrastes teu amor, encontrastes o que amas, e fez arte e fez música, eternizou-se. Se nós não somos eternos nessa vida, as coisas que deixamos são, principalmente de arte. Eu vou chorar muito te ouvindo, mas a tua música fica. Alinão, como eu te chamava, que triste que não fizemos despedidas. Que não ganhei um último abraço, que não ouvi a tua música e tua voz ao vivo, e a tua risada. Que triste tudo isso. Estava lembrando de um dos melhores encontros que tive na vida com amigos. E você estava lá. E nós cantamos (o vento), pulamos, dançamos, sorrimos. Fomos eternizados por aquele momento. As amizades mais verdadeiras que eu poderei ter nessa vida. Que estejas em paz. Que a luta que travastes não foi fácil, e agora podes descançar. Que seu brilho agora venha sempre com uma música alegre pra gente cantar. 

sábado, 7 de agosto de 2021

às vezes a vida

às vezes a vida
é como não saber se está ou não com os óculos no rosto
pra saber da realidade
é preciso mexer o nariz
revelá-la
e ver que aquele borrado na sua visão
são suas lentes sujas
e às vezes na vida
a gente precisa aprender a limpar as lentes que olhamos o mundo
pq nesses tempos de dias ruins
saber olhar para o mundo pode ser a chave
para não se acostumar com as lentes borradas
é não se acostumar com o que incomada

é como tomar um banho nesses dias frios
e perceber que o chuveiro não esquenta o bastante
e que a sua vida é morna demais para aquele frio
e você vai diminuindo o fluxo da água
até perceber que, agora a água está quente demais
e pouca
e que você pode até se queimar
e que a vida é um balanço entre não sentir frio demais
e não se queimar
e que ás vezes a vida morna pode ser boa
mas às vezes você precisa se queimar
pra saber que ainda há vida
e que se a vida esfriar demais
pode ser tarde demais para trocar o chuveiro.

 (matheus matos)

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Vacina



Parece que os políticos não sentem
só eu que sinto o frio nos pés
nesse inverno infernal:
vírus, mortes e despedidas.

A vida se tornou tão banal.
Em mim a poesia é transitória
agora mesmo transito
entre a doença,
as estatísticas,
e o esquisito:
terra plana,
negacionistas
e o mito.

Mente.
Parece aquele caso da serpente.
Omito o que sinto.
Pra acabar essa chacina
somente
educação,
ciência,
vacina,
as máscaras
pra nossa gente
e nosso grito.

Matheus Matos

sábado, 12 de junho de 2021

Roberto Andersen




Tanto tempo tem, meu amigo, que a gente se encontrou. 

Eu caminhava pelos labirintos das descobertas, ora perdido, 

ora cansado. Tu sempre fostes luz. Com tanto amor, 

com tanta atenção desprendida. Encontrastes estranhos no caminho e oferecestes o que 

tinhas de melhor. Foi contigo que aprendi feliz a passar por alguém e desejar o bem. 

Foi contigo que aprendi que o amor é uma flor que desabrocha. Com o tempo o amor é melhor. 

Com o tempo o amor é paz. Foi contigo que aprendi isso. Tu sempre me foi luz. Uma energia boa, 

um ser humano sem igual. E como é triste te perder depois de tanto tempo que estamos afastados. 

É muito triste te perder por um inimigo tão devastador. Eu ainda me imaginava velhinho em nossas 

conversas infinitas. Tenho a impressão que tudo que me tornei tem um pouco de ti. Os meus passos

foram mais leves, as minhas dúvidas mais tranquilas, o meu caminho sempre foi fácil se eu tinha tua paz. 

Me desculpe pq a vida nos afastou e mesmo que eu tentasse deixar claro tua importância em minha vida, nunca achei que era 

o bastante. Tu abraçastes a mim e meus amigos. E como um garoto, que chega numa brincadeira, chegastes e nos fizestes um grupo. Tenho amigos que 

estarão comigo pra sempre e sei do teu papel nesse vínculo. E eu sei que espalhastes esse amor por todos os cantos que andastes. 

Como é bonito ver todas as pessoas que te acompanham e te amam e te tem como exemplo e que segue o teu amor. 

Me desculpe que a vida é estranha demais pra tornar 

as coisas mais simples para encontros casuais entre nós. Sempre te vi como um amigo do peito.  Sempre fostes tão perto,

fizeste do teu jeito os encontros acontecerem. E foram momentos mágicos sobre discussões eternas do que é a vida, o que 

é o amor. Deus, existe? Obrigado por tudo. Por todas as vezes que eu estava perdido e me achastes e me colocastes no caminho.

E eu fui luz pra alguns pq tu me fostes luz. Como se passa o amor? Deve ser desse jeito que me ensinastes. E eu fui e sou 

feliz por tudo que aprendi contigo. Tenho parte de ti comigo e sempre estarás guardado. 

Vá em paz meu amigo. Vá em paz, que eu fico.  

Matheus Matos  

sábado, 13 de março de 2021

A poesia é que lê a gente

A poesia é que lê a gente nessas horas
é madrugada e a ciência me pesa
uma luz no fim do mundo
das ideias
mas a poesia é que pega a gente nessas horas

E eu imagino um velho amigo
Escrevendo um verso novo
Pra me inundar
Poesia é pro tempo passar
E a vida escorregar como uma lembrança antiga

Quando olhamos pro lado
Seus 40 anos já são passado
E os seus 20 anos parecem
cenas de filmes que você
não lembra mais as partes

Poesia é quando a gente usa isso pra escapar
Do peso de coisas, que embora às vezes boas,
ocupam as memórias dos teus melhores dias

Matheus Matos

quarta-feira, 10 de março de 2021

Can you breathe?


I love you
I can feel you
I can touch you in my mind
I don't know why
I can feel the cold breeze
and I still believe in peace
I believe in your shining eyes
but I can't breathe
if you are not mine
can you breathe?


Matheus Matos