Eis minha poesia. Toma, agora é tua!
domingo, 28 de junho de 2020
Os dias passam. Já se foram meses.
Os dias passam. Já se foram meses. As pessoas ainda não aprenderam qual é o custo de uma vida. As prioridades parecem estar sempre invertidas. Festas valem mais que uma vida. Arriscar a vida de alguém vale mais que ver alguém (talvez pela última vez). Acho que não estamos preparados para essa pandemia. Não fomos educados o suficiente para respeitar a vida do outro. Nunca um coletivo foi tão importante para a humanidade. Pelo menos na minha existência. E as pessoas ainda não aprenderam a respeitar a sua vida, muito menos a dos outros. O que você põe em risco quando exerce seu direito de ter uma festa? O que vai ser tirado de alguém quando você decide beber uma cerveja com aglomeração? São vidas. As vidas dos vulneráveis. Quem mais vai embora, num processo egoísta e sem escolha, é um idoso, uma criança vulnerável, e os profissionais de saúde que estão lá cara a cara com o perigo. A vida das pessoas que estão na frente da guerra contra esse vírus é que vai acabar. Simplesmente porque você não conseguiu se conter e não podia passar alguns meses sem uma aglomeração. Sem proteger a sua vida e a dos outros. Essa semana um amigo próximo de minha esposa, enfermeiro, perdeu a vida por causa dessa guerra. Espero que não tenha sido em vão. Essa guerra é contra o vírus e contra a falta de prioridade das pessoas. Algumas pessoas não conseguem respeitar nem a vida de um enfermeiro (e de todos os profissionais de saúde, e de todos os vulneráveis) que terá que enfrentar essa doença só pra respeitar o direito de "liberdade" de alguém. Nós precisamos aprender a respeitas a vida dos outros. Sei do meu sentimento todos os dias quando deixo o amor da minha vida na frente de batalha. Quando vejo ela entrando numa guerra que eu não posso ajudar diretamente. A única coisa que posso fazer é ficar em casa. E tenho feito. E fico em casa com o sentimento de angústia, como se você devesse fazer mais alguma coisa. Como que eles estão dando a vida, literalmente, e nós não conseguimos sequer ficar em casa. Tudo que a gente deveria fazer é ficar em casa. E, claro, quando eu digo "a gente" me refiro a todos que podem. Os dias passam, já se foram meses. Mais de quinhentas mil pessoas morreram. E muita gente ainda não aprendeu a respeitar a vida.
(Matheus Matos)
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