Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Traça Metalingüística

por: Edson de Paula (Bigão)

Nunca fui poeta,
Não sou poeta
E jamais serei!
Não suporto este fardo inalcançável,
Estas penas de chumbo
Rabiscando de sentimentos o céu,
Aves metálicas das costas de Atlas
Que carregam por cordas
o mundo.

Poetas são nefelibatas
Vivendo as nuvens no chão,
São nuvens náufragas
Avistando ilhas voadoras;
Poetas são monstrinhos visguentos,
Bucha de canhão, pólvora, bala, fogo,
BUM!!!
Ungüento...
Talvez uma flor artificial num jarro transitório
Eu possa ser,
Um brilho fugaz num orbe alegórico
Eu possa ter.
Mas de que vale todo artifício ornamental
Se da corola não exala perfume?
De que vale o brilho sepulcral
Se o calor não aquece a nudez do estrume?
De que vale dizer-se poeta
Se não traz em si a altivez do lume?

Não sou poeta,
Nunca fui
E jamais serei!
Quem dera eu pudesse vestir-me de reticências,
Calçar alpercatas do infinito,
Fazer de manto um labirinto,
Fazer-me manto,
Fazer-me mito,
Ser transcendência!
Não passo de criança evasiva
Entre um copo e outro de cachaça.

Meu ser é jaz.
Poetizar? Jamais.
Quando o for,
Não serei
Restaria mais um passo,
um verso, uma linha, um traço,
Enquanto isso
Vago nos corredores de paredes brancas
Em busca de povoar-me o...
...não-ser...

Poeta?!
Nunca fui,
Não sou já,
Mas serei...

Um comentário:

  1. incrível a facilidade que Bigão tem para construir poemas tão excêntricos e maravilhosos...

    ResponderExcluir