Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Pepe

Foi-se Pepe.
Em paz.
Fica a paz
de Pepe.
E um jaz:

Não fosse a vida, essa aventura que Pepe fala,
Essa palavra dele
Que te cala...
Não fosse o Pepe, profeta
da plebe,
Profeta entregue,
Uma joia rara,
Eu desistia desse poema.

Mas, olhando Pepe
E a vida que segue,
Sei que a luta vale a pena.

A poesia vive
E se despede do profeta.
Com a espada afiada do tempo, vejo
Pepe, em despedida, me dizendo:

Todo en la vida no es plata. 

Matheus Matos

Uma racha no tempo

Poeirar-me por onde passo
De grão em grão, eu me desfaço.
A vida pertence à lixa do tempo;
De grão em grão, me sopra o vento.

Eu tenho a poeira da poesia,
E, desse grão, de noite e dia,
Eu paro o tempo em fantasia.

O tempo é carrasco de quem é completo;
Os grãos vão embora, e eu nem me despeço.
Meus grãos vão embora nas curvas do vento,
Nos montes de Minas, que são minha sina;
A lixa do tempo me assassina.

Poeirar-me.
De grão em grão — que também é semente —,
É parte de mim que deixo para a frente.
E é se esvaindo que eu vejo surgindo
Uma racha no tempo, que vai se extinguindo. 

Matheus Matos