Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

quarta-feira, 2 de julho de 2025

ecos

Eu olho pela janela,
o tempo passa por ela.
Eu vejo o caos do cosmos
em uma pintura,
trazendo um código
que perdura
mais do que se pensa.

Vejo os ecos
de colisões cósmicas,
vejo todas as fusões
catastróficas
no infinito do universo:
canibalismo galáctico ao inverso,
numa obsessão hipertrófica.

Matheus Matos 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

luz apagada

Sinto o caos do tédio
em dias sem energia
e luz apagada.
Uma vela acesa
ilumina toda a sala
e apaga a fogueira em minha mente.

A poesia quer brotar,
mas minha memória tem perna curta,
tem teimosia
descarada.
Puxo uma letra, uma palavra...
vem um poema
com rimas safadas
de que até tenho pena.

O tédio vem como uma sentença,
de separar o corpo da mente,
desacelerar os vícios,
plantar as sementes.

O caos do tédio me consome e me acalma,
como uma daquelas drogas caras que tomamos
pra evitar o colapso
e nos deixar ausentes.

Matheus Matos

sábado, 28 de junho de 2025

epifania

Os pesos da descoberta
É o tempo que eu teria
Passa o tempo, passam os dias
Eu não tenho a resposta certa

O tempo que aperta
É que traz epifania
Passa o tempo da agonia
Vem a luz que te liberta

Matheus Matos 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O que há

Descriptografar
a alma nua que há
na ciência.

Um mergulho no que falta.
E o que acha?
Abismos.


Matheus Matos 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

excessos

Hoje eu acordei cedo
Chorei,
Como chora o meu reflexo.
Embora perplexo,
A lágrima que cai
É um favor que te peço:
Sofri mais que ti.

Hoje eu acordei cedo
E, quando olhei no espelho,
Eu não me vi.
Quem sou eu?
Quem fui eu?
O que senti?

Reflexo d’alma embaçado,
Perplexo.
Sinto as dores de uma vida
Enguiçada,
Não vivida,
Mas lembrada —
E que sofri.

A vida passa pela janela do carro.
Eu tô aqui,
Mas não tô lá.
E a minha falta, onde está?

A vida passa,
Às vezes sem nexo.
A vida passa, e eu vivo me equilibrando nos excessos;
Vivo me equilibrando no que senti,
Entre o que eles não veem
E o que eu vi.

Matheus Matos

diminutas

Pequenas galáxias cintilantes 
Em danças com passos combinados
A valsa de seus corpos 
Pulsantes 
Em giros do indecifrado

Matheus Matos

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Pepe

Foi-se Pepe.
Em paz.
Fica a paz
de Pepe.
E um jaz:

Não fosse a vida, essa aventura que Pepe fala,
Essa palavra dele
Que te cala...
Não fosse o Pepe, profeta
da plebe,
Profeta entregue,
Uma joia rara,
Eu desistia desse poema.

Mas, olhando Pepe
E a vida que segue,
Sei que a luta vale a pena.

A poesia vive
E se despede do profeta.
Com a espada afiada do tempo, vejo
Pepe, em despedida, me dizendo:

Todo en la vida no es plata. 

Matheus Matos

Uma racha no tempo

Poeirar-me por onde passo
De grão em grão, eu me desfaço.
A vida pertence à lixa do tempo;
De grão em grão, me sopra o vento.

Eu tenho a poeira da poesia,
E, desse grão, de noite e dia,
Eu paro o tempo em fantasia.

O tempo é carrasco de quem é completo;
Os grãos vão embora, e eu nem me despeço.
Meus grãos vão embora nas curvas do vento,
Nos montes de Minas, que são minha sina;
A lixa do tempo me assassina.

Poeirar-me.
De grão em grão — que também é semente —,
É parte de mim que deixo para a frente.
E é se esvaindo que eu vejo surgindo
Uma racha no tempo, que vai se extinguindo. 

Matheus Matos