Descriptografar
a alma nua que há
na ciência.
Um mergulho no que falta.
E o que acha?
Abismos.
Descriptografar
a alma nua que há
na ciência.
Um mergulho no que falta.
E o que acha?
Abismos.
Hoje eu acordei cedo
E, quando olhei no espelho,
Eu não me vi.
Quem sou eu?
Quem fui eu?
O que senti?
Reflexo d’alma embaçado,
Perplexo.
Sinto as dores de uma vida
Enguiçada,
Não vivida,
Mas lembrada —
E que sofri.
A vida passa pela janela do carro.
Eu tô aqui,
Mas não tô lá.
E a minha falta, onde está?
A vida passa,
Às vezes sem nexo.
A vida passa, e eu vivo me equilibrando nos excessos;
Vivo me equilibrando no que senti,
Entre o que eles não veem
E o que eu vi.
Matheus Matos
Foi-se Pepe.
Em paz.
Fica a paz
de Pepe.
E um jaz:
Não fosse a vida, essa aventura que Pepe fala,
Essa palavra dele
Que te cala...
Não fosse o Pepe, profeta
da plebe,
Profeta entregue,
Uma joia rara,
Eu desistia desse poema.
Mas, olhando Pepe
E a vida que segue,
Sei que a luta vale a pena.
A poesia vive
E se despede do profeta.
Com a espada afiada do tempo, vejo
Pepe, em despedida, me dizendo:
Todo en la vida no es plata.
Matheus Matos
Poeirar-me por onde passo
De grão em grão, eu me desfaço.
A vida pertence à lixa do tempo;
De grão em grão, me sopra o vento.
Eu tenho a poeira da poesia,
E, desse grão, de noite e dia,
Eu paro o tempo em fantasia.
O tempo é carrasco de quem é completo;
Os grãos vão embora, e eu nem me despeço.
Meus grãos vão embora nas curvas do vento,
Nos montes de Minas, que são minha sina;
A lixa do tempo me assassina.
Poeirar-me.
De grão em grão — que também é semente —,
É parte de mim que deixo para a frente.
E é se esvaindo que eu vejo surgindo
Uma racha no tempo, que vai se extinguindo.
Matheus Matos
E logo, em sua dança,
com o amor a postos,
trilha interrompida.
Ficou a poesia
em um beco sem saída,
sem receita de eternidade.
Matheus Matos