Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

sábado, 18 de outubro de 2025

a tua falta

Acordei sem o despertador.
A tua falta me desperta
todas as noites.
Eu rolo na cama
e tenho pesadelos que esqueço.
Só me lembro de acordar suado
e sentir o vazio da cama.

Há uma presença oculta na casa
o tempo todo.
Uma sensação de que a tua voz
vai dizer meu nome,
mas não diz.

Levantei e desci as escadas.
Hoje é sábado
e o sofá estava vazio.
Os gatos estavam tristes
e não saíam de seus lugares.

Fui pra cozinha em busca
daquele estalo que o armário
faz a noite toda.

Fiz um café na prensa francesa,
aquela que compramos na última viagem.
Quebrei a prensa pensando em ti,
mas o café ficou bom.

Já não sei mais contar
o tempo sem você,
e me perco nas letras
dos nossos dias.

Quiçá eu pudesse usar
minha poesia pra expressar
tua falta,
mas ela
não diz tudo. 

Matheus Matos

sábado, 11 de outubro de 2025

soluço

Perdemos o espanto
das coisas com encanto.
A vida precisa do brio,
mas o povo vive por um fio
e nem se pede tanto.

O soluço não passa
nesse mundo vazio.
Vejo tudo e não rio,
e não dou um basta.

Matheus Matos

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

janela

De frente pra praia
num quarto de hotel,
o ócio é meu vício,
a vida —
precipício.

Estar só
em pensamentos,
profanar mandamentos
como quem se liberta.

Eu vejo o mar
nessa cena.
Da janela de vidro,
resolvo problemas.

Nessa janela da vida,
me salva
amar —
e esse poema.

Matheus Matos

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Can you breathe ? II

I love you
I can feel you
I can touch you in my mind
I don't know why

I can feel the cold breeze
and I still believe in peace
I believe in your shining eyes
but I can't breathe
if you are not mine

can you breathe?

can you breathe?
can you feel
I can touch you in my mind
I don't know why
I can feel the cold breeze
and I still believe in peace
I believe in your shining eyes
but I can't breathe
if you are not mine


Matheus Matos
 

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

sem gentileza

tenho a fragilidade de quem sonha
mas não tenho a gentileza do profeta.
gentileza...
tenho um pouco de ser poeta,
mas não me imponha.
um dia eu fui leveza,
capoeira,
mas hoje sou vergonha.
disponha.

quem sonha precisa de agressividade,
não precisa ter idade.
mas suponha
que quem acorda de manhã cedo,
todo dia,
pra ter seu ganha-pão,
nem vê o cheiro do dinheiro.
contraponha
essa verdade.

a vida não tem segredo,
só precisa saber quem flutua
e quem afunda na lama.
não tem nada de grana
nem pra limpar a bunda,
mas dá os corre o dia inteiro.

já fui modesto em meus sonhos,
mas hoje eu sonho o que é impossível,
o que não tiram de mim,
eu suponho.
deixei de acreditar em anjo,
nem ligo mais pra esses tais de serafins.
essa é a verdade que eu exponho.

não há anjo nem demônio.
ai de mim, ai de mim
se eu me esquecer do tom da pele.
você é inocente?
eu sei quem segue
quando tá escondido.

a arte nasce também no oprimido,
no momento latente...
mas por que precisa ser sofrido?

eu sei o lugar que me cabe:
não é qualquer lugar,
mas todo lugar
que eu queira.
eu sei quem amar,
embora ame muita gente.
eu sei quem sou muitas vezes,
embora exista essa barreira.

todo dia eu entro no portal.
um dia isso vai fazer mal,
acordar de madrugada,
transportar essas jornadas
de certezas.
se aproveitam da nossa nobreza —
colorado, colorido, bem pensado...
de onde você pensa que vem essa clareza?

Matheus Matos 


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

a chave

O cárcere que te aprisiona é o mesmo que te liberta,
escolher o teu próprio cárcere vai mostrar o quanto você é esperta.
Nada pode ser mais devastador que uma ferida aberta,
mas o que vai cicatrizar o teu medo?
Quem vai te dizer que agora é a hora certa?

É você.
Só você tem a chave
daquilo que te aprisiona.
Ninguém é livre completamente,
já dizia o poeta:
a liberdade existe pra escolha
da tua janela indiscreta.

Talvez seja isso o que te impulsiona:
encontrar tua prisão predileta.
E isso já é minha compulsão,
escolher seu próprio cárcere
está além da minha visão.

Matheus Matos