Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

domingo, 9 de fevereiro de 2025

trilha interrompida

Aquela menina olhava para a sorte
como quem via a vida,
como quem via o poema,
com sua alma e rima,
como se esperasse o amor,
às 18h da tarde,
na janela de uma casa antiga,
como se esperasse um milagre.

E logo, em sua dança,
com o amor a postos,
trilha interrompida.
Ficou a poesia
em um beco sem saída,
sem receita de eternidade.

Matheus Matos

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Dias Estranhos

Se não tenho você aqui,
toda a minha vida está fora do lugar.
Você levou os móveis e, no lugar vazio,
deixou esse buraco em meu peito,
deixou a angústia,
o frio,
que eu já sei encaixar.

Eu já não durmo direito,
tenho insônias
de noites completas,
olhando, na cama, o vazio,
ouvindo suas canções prediletas.

Tenho pesadelos em noites de chuva,
acordo com tempestades em meu quarto.
Chove em mim de noite,
chove em mim desde que não te tenho aqui.
Acordo com o grito dos trovões,
parece um chamado para eu sair da cama,
buscar outras paixões,
lembrar que a vida não é só um sonho passageiro.

Mas tudo o que eu tenho,
tudo o que eu lembro,
é da nossa chama,
você dizendo para eu ter calma,
que ainda me ama,
que tudo é verdadeiro.

No nosso tempo,
dormir contigo era apenas um detalhe.
Se eu te tinha,
eu tinha
um sonho acordado,
eu tinha o milagre.

Dormir, às vezes, era mais tarde.
Às vezes, eu sorria ao te ver roncar.
Às vezes, eu dormia.
Às vezes, eu era a insônia.
Mas eu já não rio,
já não sei mais amar.
Se eu já fui rio,
você foi mar. 

Matheus Matos

domingo, 19 de janeiro de 2025

La femme qui danse

DALL·E 2025–01–19 18.51.33 - Uma pintura impressionista inspirada neste poema. A cena apresenta uma mulher dançando com movimentos fluidos. Feito por Inteligência Artificial.



Eu te vi dançando,
Como quem entrega a alma,
Como quem fecha os olhos
Pra achar a calma
E vai pra outra dimensão.

Você sempre estava em alguma dimensão
Quando estava comigo.
Às vezes, eu estava junto,
Às vezes, eu te puxava de volta.

Eu fechei meus olhos também,
Como se pudesse me emaranhar contigo,
Como se pudesse voltar a ser teu amigo,
Como se pudesse desfazer a revolta.

Quando eu te vi,
Tudo já havia passado.
O coração acelerado,
Estilo beija-flor,
Só pensava em não te perder
Mais uma vez.
Você já me fez tremer assim,
Lembra?
Me fez esquecer a dor
De um talvez.

Eu te vi dançando,
Como se pudesse viajar no tempo.
E o teu olho no meu,
O meu olho lento,
Lendo o amor da minha vida,
Vendo que não houve despedida,
Dançando aos ventos,
Como quem escreve um poema,
Como quem pinta um Monet
E o meu dilema.

Matheus Matos

uva

Eu te disse
Todas aquelas coisas
Involuntárias.
Eu perdi a mim
Quando perdi a ti.
Perdi muito.
Quando não acordava ao teu lado,
Perdia o sono.
Eu perdi os sonhos
Sem ter você aqui.
Perdi o gosto de ser amado.

Perdi o saber das coisas,
O sabor das coisas.
Eu cozinho pra tentar te achar,
Mas nunca estou inteiro.
Eu não tenho tua voz rouca,
Reclamando feito louca,
Se não uso teu tempero.

Se eu não te acho,
Eu nunca me acho.
Eu perco a fome,
Eu não me encaixo.
Eu vejo o tempo derramando,
Eu vivo a vida sonhando
Com o teu beijo.
É só assim que eu te vejo:
Nas lembranças passadas,
Em cada pingo
De chuva,
Até na roupa lavada
E naquele cacho
De uva.

Matheus Matos

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

eu finjo te escrever todos esses poemas de amor

Eu voltei,
agora que sei
que o amor não é perfeito,
e que ainda te quero
como sempre te quis.
É que meus olhos não estavam abertos.

Eu te procurei em todos os cantos
das casas que vivi,
em todos os cantos de amar
e que sofri.
Esperava te achar em cada esquina,
em cada canto de mundo vazio,
em qualquer olhar gentil
que não tinha o teu sorriso
e que era minha ruína.

Sem você,
A casa será sempre esse eco do amor que estou perdendo.
Eu voltei pra tentar te achar
fingindo esquecer as coisas passadas.
Eu finjo ser outro alguém pra te conhecer de novo.
pra te encontrar nos acasos da vida
como se fosse a primeira vez
com o nosso primeiro talvez
mas o amor não sendo.

Matheus Matos

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

cacos

Eu fui embora,
eu sei.
Em quantos pedaços me desfiz?
Em todos os cacos
de uma pessoa perfeita.

Eu idealizei
o amor,
e o amor não é aquela seita
da qual tanto preguei.
O amor é essa coisa desfeita,
caminha de mãos dadas
com o teu jeito.
Pôde um dia
ser conceito,
mas pouco existiu.

Eu fui embora, mas quis ficar.
Eu te amo de um jeito que
não sei mais falar.
Fui construir
minha inexatidão.
Eu fui pra voltar,
refeito,
incompleto,
despedaçar o perfeito
pra achar o perdão.

Matheus Matos 

um norte

Outro dia,
te vi em uma série de TV.
Eu te vejo na atriz, embaraçada,
fingindo ser engraçada.
Meus dias ainda passam lentos;
eu passeio pelas agonias
das horas.

Eu me perco no tempo
das coisas passadas,
onde eu sei
te amar,
sedento.

Mas não tenho você.
Eu não te entendo.
Eu vejo mais um
fim de nosso episódio.
Não sei rimar
teu ódio
com teu prazer.

Os dias passam.
Eu sinto aquele vento;
eu sinto frio, pensando:
o que é mesmo o amor,
senão perdão,
um norte,
ter sorte
e dor?

Matheus Matos

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Dias Lentos

Os dias passam lentos
quando não tenho você aqui.
Não fosse essa minha mente inquieta,
lembrando de tua cara sapeca,
aposto que nem o tempo diria
que meu momento de euforia
seria lembrar de existir.

Os dias passam lentos,
e eu não tenho mais você
pra fingir que se importa
com algum final,
banal,
que passa na TV.

Depois de ter você,
os dias passam lentos.
Mas pra quê?
Copio os poetas,
não faço mais café,
não vejo o teu balé,
não ando mais em festas,
não tenho cafuné,
nem ligo a TV.
Depois de ter você,
só tenho aquele frio
que tinha no seu pé
se estava no AP.

Os dias passam lentos,
e eu só tenho a memória
de que você bateu a porta.
E, por sorte,
o que conforta
não foi forte:
você já foi embora,
e eu espero a hora
de desviar da morte
pra reencontrar você.

Matheus Matos