Eis minha poesia. Toma, agora é tua!

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O que há

Descriptografar
a alma nua que há
na ciência.

Um mergulho no que falta.
E o que acha?
Abismos.


Matheus Matos 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

excessos

Hoje eu acordei cedo
Chorei,
Como chora o meu reflexo.
Embora perplexo,
A lágrima que cai
É um favor que te peço:
Sofri mais que ti.

Hoje eu acordei cedo
E, quando olhei no espelho,
Eu não me vi.
Quem sou eu?
Quem fui eu?
O que senti?

Reflexo d’alma embaçado,
Perplexo.
Sinto as dores de uma vida
Enguiçada,
Não vivida,
Mas lembrada —
E que sofri.

A vida passa pela janela do carro.
Eu tô aqui,
Mas não tô lá.
E a minha falta, onde está?

A vida passa,
Às vezes sem nexo.
A vida passa, e eu vivo me equilibrando nos excessos;
Vivo me equilibrando no que senti,
Entre o que eles não veem
E o que eu vi.

Matheus Matos

diminutas

Pequenas galáxias cintilantes 
Em danças com passos combinados
A valsa de seus corpos 
Pulsantes 
Em giros do indecifrado

Matheus Matos

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Pepe

Foi-se Pepe.
Em paz.
Fica a paz
de Pepe.
E um jaz:

Não fosse a vida, essa aventura que Pepe fala,
Essa palavra dele
Que te cala...
Não fosse o Pepe, profeta
da plebe,
Profeta entregue,
Uma joia rara,
Eu desistia desse poema.

Mas, olhando Pepe
E a vida que segue,
Sei que a luta vale a pena.

A poesia vive
E se despede do profeta.
Com a espada afiada do tempo, vejo
Pepe, em despedida, me dizendo:

Todo en la vida no es plata. 

Matheus Matos

Uma racha no tempo

Poeirar-me por onde passo
De grão em grão, eu me desfaço.
A vida pertence à lixa do tempo;
De grão em grão, me sopra o vento.

Eu tenho a poeira da poesia,
E, desse grão, de noite e dia,
Eu paro o tempo em fantasia.

O tempo é carrasco de quem é completo;
Os grãos vão embora, e eu nem me despeço.
Meus grãos vão embora nas curvas do vento,
Nos montes de Minas, que são minha sina;
A lixa do tempo me assassina.

Poeirar-me.
De grão em grão — que também é semente —,
É parte de mim que deixo para a frente.
E é se esvaindo que eu vejo surgindo
Uma racha no tempo, que vai se extinguindo. 

Matheus Matos

domingo, 16 de março de 2025

Hiato

 Me escondo
Como quem não tem ideias.
Preciso parar o tempo,
Preciso descobrir quimeras,
Demonstrar teoremas,
Descobrir novas ondas,
Cuspir partículas tontas,
Resolver se vale a pena

Ser
De um mundo invisível.

Ser criativo cansa.
Onde está agora
Dom Quixote de Sancho Pança?

Ser adorado
Sem querer
Pelos feitos do passado.
Ser profeta ultrapassado.
Ser música sem dança,
Sem querer mexer.

É cansaço.

Meus poemas contam histórias de quem vai ler.
E as minhas histórias,
Que são minhas e ninguém vê,
Se esvaem.

Matheus Matos

domingo, 9 de fevereiro de 2025

trilha interrompida

Aquela menina olhava para a sorte
como quem via a vida,
como quem via o poema,
com sua alma e rima,
como se esperasse o amor,
às 18h da tarde,
na janela de uma casa antiga,
como se esperasse um milagre.

E logo, em sua dança,
com o amor a postos,
trilha interrompida.
Ficou a poesia
em um beco sem saída,
sem receita de eternidade.

Matheus Matos

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Dias Estranhos

Se não tenho você aqui,
toda a minha vida está fora do lugar.
Você levou os móveis e, no lugar vazio,
deixou esse buraco em meu peito,
deixou a angústia,
o frio,
que eu já sei encaixar.

Eu já não durmo direito,
tenho insônias
de noites completas,
olhando, na cama, o vazio,
ouvindo suas canções prediletas.

Tenho pesadelos em noites de chuva,
acordo com tempestades em meu quarto.
Chove em mim de noite,
chove em mim desde que não te tenho aqui.
Acordo com o grito dos trovões,
parece um chamado para eu sair da cama,
buscar outras paixões,
lembrar que a vida não é só um sonho passageiro.

Mas tudo o que eu tenho,
tudo o que eu lembro,
é da nossa chama,
você dizendo para eu ter calma,
que ainda me ama,
que tudo é verdadeiro.

No nosso tempo,
dormir contigo era apenas um detalhe.
Se eu te tinha,
eu tinha
um sonho acordado,
eu tinha o milagre.

Dormir, às vezes, era mais tarde.
Às vezes, eu sorria ao te ver roncar.
Às vezes, eu dormia.
Às vezes, eu era a insônia.
Mas eu já não rio,
já não sei mais amar.
Se eu já fui rio,
você foi mar. 

Matheus Matos